Sopa de lentilha palestina

 

Prometi uma receita de pão integral pra minha amiga Mona, mas ela vai ter que esperar um pouquinho. Desde a semana passada que estou participando de um projeto muito interessante mas que está consumindo todo o meu tempo. Sem tempo pra cozinhar, estamos nos alimentando de quinoa, macarrão e os legumes solitários que encontro na geladeira. Mas estava ocupada demais pra fazer compras no sábado, dia de ir à feira e fazer o estoque de verduras da semana, e hoje cheguei ao fim da despensa (o “fim do poço” culinário). A maior parte do meu prato é preenchida com verduras e legumes, em qualquer refeição (sim, mesmo no café da manhã), e quando me deparo com uma geladeira vazia, preparar o jantar vira missão impossível. Felizmente pra essas ocasiões existe o prato do pobre.

Em cada país do mundo exite um prato típico (ou vários) que usa somente alguns ingredientes baratos, mas que é capaz de encher a barriga de qualquer trabalhador faminto. Na India eu descobri o daal (sopa de lentilhas), que custava menos que um copo de chá, no Egito tem o koshari (um prato de macarrão com lentilhas, cebola frita e molho apimentado) que, segundo um artigo que li recentemente, alimentou os revolucionários da praça Tahrir, e por aí vai.

Por mais que eu adore os elaborados e deliciosos pratos de festas, também presentes em todas as culturas do mundo, o prato do pobre tem um lugar especial no meu coração. Não somente ele alimenta e permite que milhões de pessoas sobrevivam todos os dias mas, contrariamente ao que se possa imaginar, visto que os ingredientes são sempre tão simples, alguns são extremamente saborosos. A limitação, nesse caso financeira, nos obriga a ser criativos e a aproveitar os ingredientes da melhor maneira possível. Sem contar que, sendo carne e laticícios produtos de luxo na maior parte do mundo, os pratos do pobre são sempre veganos.

Aqui na Palestina os pratos do pobre são feitos com lentilha e arroz. Eu já publiquei a receita do Mujadara, um dos meus pratos preferidos, e hoje gostaria de dividir com vocês a sopa de lentilha que salvou o jantar de hoje. Essa sopa é parecida com daal, mas é feita com arroz e não usa as especiarias da prima indiana. Ela é delicadamente temperada (só um toque de cominho e um pouco de suco de limão), mas é deliciosa e alimenta por várias horas. Tirando a cebola e o alho (e o limão), essa sopa usa ingredientes do armário, o que significa que mesmo com a geladeira vazia você será capaz de preparar um jantar nutritivo, saboroso e que fica pronto em meros 20 minutos. E viva o prato do pobre!

 

Sopa de lentilha palestina

A lentilha usada aqui é do tipo coral (veja foto no final da receita), que não tem casca e cozinha muito mais rápido do que lentilha verde e marrom. Acredito que usando mais água e deixando a sopa cozinhar mais tempo, você poderá usar lentilhas verdes (nunca testei, então não posso dar instruções precisas). Mas não deixe de procurar lentilha coral pra fazer o prato tradicional pelo menos uma vez. Preparada na panela de pressão, a sopa não só fica pronta mais rápido como se torna mais cremosa.

1 1/2x de lentilha coral

1/3x de arroz

2cs de azeite

1 cebola picadinha

2 dentes de alho grandes picados

1 cubo de caldo de legumes

1/2cc de cominho

1,5l de água

suco de 1 limão médio

sal

Em uma panela de pressão, aqueça o azeite e refogue a cebola até ficar dourada. Junte o alho e refogue mais 1 minuto. Junte os outros ingredientes, menos o suco de limão, e aumente o fogo. Quando começar a ferver, tampe a panela de pressão e deixe cozinhar 15 minutos, em fogo baixo, à partir do momento em que a panela “pegar pressão” (começar a apitar). Desligue o fogo e deixe a pressão se liberar naturalmente. Tempere com o suco de limão e corrija o sal. Sirva bem quente. Eu gosto de servir a sopa com fatias de limão pra quem gostar de sopa mais azedinha (eu gosto!). Serve 4 porções.

Lentilha coral, que perde esse linda cor laranja durante o cozimento.