Perguntas frequentes e mitos sobre veganismo

Eu até entendo suas razões, mas ser vegano é difícil demais!

Ser vegano não tem nada de extraordinário, difícil é ter força pra deixar de fazer parte da maioria e encarar as dificuldades cotidianas ligadas a essa escolha. Contrariamente ao que os não-vegetarianos possam imaginar, a dificuldade maior não é equilibrar minha alimentação pra não desenvolver nenhuma carência. Isso até que é bem simples. Difícil é viver em uma sociedade onde nada é adaptado pros vegetarianos (imagine pros veganos, então!), onde as pessoas nos consideram “loucos” ou “irresponsáveis” e onde nem nossos amigos e parentes aceitam nosso modo de vida, tentando nos convencer de que estamos errados. A boa notícia é que, enquanto nosso país continua na Idade Média do veganismo, em outros lugares do mundo existe uma compreensão e aceitação muito maior do assunto e os veganos dispõem de inúmeras opções vegetais, tanto em supermercados e lojas de produtos naturais, como em lanchonetes e restaurantes. Em Berlim encontrei até um supermercado inteiro vegano! À medida que a população vegana aumenta no Brasil, a indústria alimentícia começa a prestar mais atenção nesse grupo de consumidores e as opções vão aumentando. O futuro é verde!

Os humanos são naturalmente carnívoros, a carne sempre fez parte do nosso regime.

Os ancestrais dos homens tiveram regimes variados, segundo os diferentes períodos da Historia. Os primeiros humanoides apareceram há 24 milhões de anos e se alimentavam exclusivamente de frutos. Com a chegada dos australopitecos, há 5 milhões de anos, o consumo de carne foi aos poucos se instalando. Há 12 mil anos, durante o período Mesolítico, a diminuição da caça acabou quase que completamente com o consumo de carne pelos homens. A partir do período Neolítico, o sedentarismo e a revolução na agricultura favoreceu o aumento do consumo de carne. A História nos mostra que o homem é capaz de adaptar sua alimentação, mas “adaptação” não significa necessariamente “adequação”. A ciência está aí pra provar que é possível se manter saudável com diferentes tipos de regime, incluindo o regime 100% vegetal.

E as proteínas? Só existe proteína na carne. (ou então) Não tem todas as proteínas que precisamos nos vegetais, tem proteínas essenciais que só são encontradas nas carnes.

A natureza está cheia de proteínas vegetais. Sim, proteína vegetal existe! Na verdade, carência de proteína é algo que praticamente não existe no mundo (com exceção dos países devastados pela fome), o que vemos na maior parte do tempo é um excesso de proteína. Produtos de origem animal, como carne, leite e ovos, possuem todos os aminoácidos essenciais, sendo considerados proteínas completas. Poucos vegetais contêm os nove aminoácidos essenciais ao mesmo tempo, mas a combinação de vegetais de grupos diferentes garante a ingestão de todos os aminoácidos que o seu corpo precisa. Se a sua dieta contém uma variedade de grãos, legumes e verduras, as necessidades de proteínas são facilmente preenchidas. Deficiência de proteína é algo raríssimo, muito mais provável de acontecer nos países devastados pela fome do que na nossa sociedade, onde um grande número de doenças está ligado ao excesso, e não à falta, de comida.

Alguns exemplos de alimentos vegetais ricos em proteínas:

Tofu firme (1/2 xícara) 19.9g
Lentilha cozida (1 xícara) 17.9g
Feijão preto cozido (1 xícara) 15.2g
Grão de bico cozido (1 xícara) 14.5g
Espinafre cozido (1 xícara) 5.4g
Arroz integral cozido (1 xícara) 5g
Brócolis cozido (1 xícara) 4.6g
Pão integral (1 fatia) 2.7g

Embora seja comum se referir às proteínas vegetais como “inferiores”, elas na verdade têm muitas vantagens quando comparadas às proteínas animais. Proteínas vegetais não contêm colesterol, são pobres em gordura e possuem duas coisas importantíssimas pra saúde e que não existem nos produtos de origem animal: fito químicos (um tipo de antioxidante) e fibras. Mais informações sobre proteínas nesse post.

Eu malho/faço esporte e preciso de uma alimentação rica em proteínas, logo não posso ser vegetariano, muito menos vegano.

Precisamos de 0,8g de proteína por quilo de peso corpóreo. Uma pessoa que pratica esportes pode aumentar um pouco esse número, mas é bom ter cuidado com o excesso de proteína. Diversos estudos mostraram que os brasileiros estão ingerindo mais proteínas do que o recomendado. Nosso corpo transforma o excesso de proteína em gordura e o risco de desenvolver doenças cardiovasculares aumenta. Proteína animal em excesso também aumenta a acidez do organismo, que tenta combater o fenômeno utilizando o cálcio dos ossos, causando a perda excessiva desse mineral (ver página 66).

Existem muitos atletas veganos. Tenistas, jogadores de futebol, triatletas, halterofilistas, lutadores de boxe, levantadores de peso… Esses atletas conseguem obter ótimos resultados em competições de nível internacional com uma alimentação exclusivamente vegetal. Um dos melhores exemplos é o americano Scott Jurek, uma lenda das ultramaratonas. Ele ganhou sete vezes consecutivas (e quebrou o recorde da prova em 2004) a ultramaratona mais prestigiosa do mundo, Western States 100 miles, e ganhou duas vezes a ultramaratona mais difícil do mundo, Badwater Ultramarathon (217 km de corrida entre o Vale da Morte e o Monte Whitney, nos EUA, em temperaturas que chegam a 54° C). Se Yurek consegue fazer tudo isso sendo vegano, você também consegue fazer sua caminhada diária ou frequentar a academia sem passar mal. Muito pelo contrário, seu rendimento só vai melhorar.

E o ferro? Só existe ferro na carne e vegetarianos/veganos devem ser todos anêmicos. Eu conheço um vegetariano que é tão amarelo, coitado. Só pode ser anemia.

O regime vegetariano puro fornece o dobro da quantidade recomendada de ferro e quase o triplo de vitamina C. A vitamina C melhora a absorção do ferro e consequentemente veganos não sofrem mais de anemia do que onívoros. Já os vegetarianos precisam tomar cuidado. Eles têm tendência a substituir a carne por queijos, aumentando as chances de desenvolver anemia pois leite é muito pobre em ferro e interfere na absorção do ferro presente em outros alimentos. Mas um vegetariano/vegano que se alimenta de maneira variada, comendo legumes, frutas, grãos e cereais integrais todos os dias não terá nenhum tipo de carência.

Quanto à cor amarelada de alguns vegs a explicação pode ser outra. O excesso de alimentos ricos em beta caroteno, como cenoura e jerimum, pode alterar ligeiramente a cor da pele, que ganha um tom amarelado.

O ferro encontrado nos vegetais não é bem absorvido pelo corpo. Uma pessoa com anemia tem que comer carne se quiser se curar.

Carência de ferro (anemia ferropriva) é a deficiência nutricional mais comum no mundo, mas o índice de anêmicos na população vegetariana não é maior do que na população onívora.

O ferro está presente nos alimentos em duas formas, heme e não-heme. Os dois têm o mesmo efeito no organismo, mas são absorvidos de maneira diferente. O ferro presente nos vegetais é do tipo não-heme, enquanto que a carne possui 40% de ferro heme e 60% não-heme. A biodisponibilidade do ferro heme é maior, ou seja, ele é absorvido em quantidades maiores pelo organismo. Mas isso está longe de ser um argumento contra o regime vegetal. A verdade é que nosso corpo consegue controlar a taxa de absorção do ferro não-heme, de acordo com a quantidade desse mineral no nosso estoque. Já o ferro heme é sempre absorvido da mesma maneira, independente das nossas necessidades, podendo causar uma absorção exagerada desse mineral. Excesso de ferro no sangue aumenta a produção de radicais livres, o que enferruja os órgãos e, nos casos mais graves, pode causar cirrose, diabetes, insuficiência cardíaca e problemas na produção hormonal.

Enquanto a absorção de ferro heme não sofre interferências externas (existe uma exceção, que veremos mais adiante), a absorção do ferro não-heme varia de acordo com a presença de outros nutrientes na mesma refeição. A vitamina C (ácido ascórbico), disponível em frutas cítricas e legumes, é a maior promotora da absorção do ferro não-heme. Por outro lado, fósforo, tanino (presente no café, chá, chocolate e vinho tinto) e refrigerantes inibem a absorção do ferro. Doses elevadas de cálcio interferem tanto na absorção do ferro não-heme quanto do ferro heme. Isso não é um problema na dieta vegana, já que geralmente o cálcio é menos concentrado nos vegetais, mas as pessoas que consumem laticínios precisam tomar cuidado pra não misturar esses produtos com um alimento rico em ferro. Fica o alerta: laticínios, além de pobres em ferro, dificultam a absorção do ferro presente em outros alimentos.  

Algumas das melhores fontes vegetais de ferro são leguminosas, castanhas de caju, sementes de abóbora, gergelim, vegetais verde-escuros (como espinafre e rúcula), frutas secas (principalmente damascos, passas e ameixas), aveia, quinoa, linhaça e melado de cana. As necessidades de ferro variam de acordo com o sexo e a faixa etária, mas com uma dieta vegetal variada e rica em alimentos frescos (que são fontes de vitamina C) você não corre risco de desenvolver uma deficiência em ferro.

O leite é necessário pra manter a saúde, principalmente a das crianças. Se eu parar de tomar leite e consumir seus derivados como vou fazer pra ter cálcio na alimentação? E a osteoporose?

Os seres humanos são os únicos mamíferos que bebem leite depois de adultos e, mais estranho ainda, que bebem o leite de outra espécie. Isso não é uma prática antiga, nós sobrevivemos durante centenas de milhares de anos sem leite e dois terços da população mundial nem consegue digeri-lo. A intolerância ao leite é a alergia alimentar mais comum que existe. Os sintomas são: asma, eczema, urticária, problemas crônicos do nariz, sinusite, amidalite, cólicas, problemas intestinais, problemas de pele, hiperatividade e depressão. Outro ponto negativo: os derivados do leite são a principal fonte de gordura saturada na dieta dos onívoros (atenção, vegetarianos!).

Contrariamente ao que se pensa, a osteoporose não é causada por uma carência de cálcio, ela é causada, entre outros, por um excesso de ácido na alimentação. O corpo utiliza então o cálcio presente nos ossos pra se livrar da acidez. É verdade que os laticínios possuem uma grande quantidade de cálcio mas possuem também uma grande quantidade de proteínas, o que causa o excesso de acidez que rouba o cálcio, e outros minerais, do corpo. Por isso, por mais irônico que isso possa parecer, as populações que ingerem a maior quantidade de leite são também as que mais sofrem de osteoporose. Com uma ingestão de somente 75g de proteína por dia se perde mais cálcio na urina do que o que é absorvido através da alimentação. Quanto mais proteína animal ingerimos, mais cálcio perdemos.

Como se isso não fosse suficiente, um estudo recente mostrou que o leite acumula um tipo de toxina, chamada zearaleona, que impede a apoptose, ou seja, a morte celular dos tumores cancerígenos. O leite contém naturalmente hormônios que favorecem os cânceres (estrogênio, progesterona, cortisol etc), é um concentrado de poluentes (dióxidos, pesticidas etc) que são igualmente cancerígenos, contém também aceleradores de cancerização (hormônio de crescimento) e, por causa da zearaleona, ainda impede o organismo de combater o câncer.

Acham que as crianças são quem mais precisam de leite? Leite faz nosso corpo criar muco e pode causar problemas como tosse crônica, sinusite, asma e infecções do ouvido. Segundo um estudo feito pela American Academy of Allergy and Immunology Commitee, as alergias de mais de um terço das crianças testadas desapareceram completamente depois que o leite foi tirado de suas dietas. O pediatra mais famoso do mundo, Benjamin Spock, escreveu no seu livro “Baby and Child Care”: “Leite de vaca não é recomendado a uma criança doente, aliás, nem a uma criança sadia. Laticínios podem causar mais muco e mais desconforto quando se tem uma infecção respiratória”.

O cálcio é indispensável a uma alimentação saudável, mas pensar que cortando o leite e seus derivados sua dieta fica sem esse mineral é um mito sem fundamento. Os únicos seres que têm realmente necessidade de leite de vaca são os bezerros. O leite é perfeitamente adaptado às necessidades deles, não às nossas. Lembrem-se: o cálcio é fundamental, não o leite.

Mas peixe é muito saudável! Alguns nutrientes essenciais só são encontrados nos peixes.

A carne dos peixes e frutos do mar consumida hoje em dia está contaminada com produtos tóxicos que causam câncer e degeneração cerebral. Também é a comida que tem mais chances de ter sido contaminada com bactérias. Por causa da poluição industrial nos mares e rios, a carne de peixe contem PCB, uma substância química que causa danos no fígado e sistema nervoso, dióxidos, que causam câncer, substâncias radioativas como estrôncio 90 e outras substâncias perigosas como mercúrio, chumbo, arsênio e cromo que causam uma infinidade de doenças, entre elas problemas no fígado e tumores no cérebro. Essas toxinas entram no nosso corpo através dos peixes e permanecem lá durante décadas. É importante observar que peixe é a maior fonte de exposição humana ao mercúrio. Esse metal é conhecido por causar danos cerebrais, perda de memória, tremores, abortos espontâneos e problemas no desenvolvimento do feto.

O ômega 3, que é tão bons pra saúde e que encoraja tanta gente a comer peixe, podem ser encontrados em outros alimentos. Sementes de linhaça, nozes e sementes de chia são boas fontes de ômega 3. Logo, peixe não é indispensável e pode, em certos casos, representar um perigo pra saúde humana.

A dieta vegana não fornece um nutriente essencial, a vitamina B12. Isso prova que ela não é natural/adaptada aos humanos.

Faz sentido afirmar que, por ser carente em uma vitamina, o veganismo não é adaptado ao ser humano? Em um passado não muito distante nosso meio não era esterilizado, o solo era rico em bactérias boas e os vegetais forneciam uma quantidade satisfatória dessa vitamina. Se hoje veganos precisam suplementar a B12 é porque o meio em que vivemos mudou radicalmente. Essa foi a explicação que encontrei em todos os artigos que li, com um única exceção. O nutrólogo Eric Slywitch no artigo “Vitamina B12 (30 informações importantes)” afirma que acreditar que nossos ancestrais viviam em harmonia total com a natureza, que oferecia todos os nutrientes de que eles precisavam, é um mito. Segundo ele, nossos ancestrais conseguiam B12 provavelmente porque comiam carne. Eu prefiro não entrar nesse debate, pois acho irrelevante saber qual era a fonte de B12 dos nossos antepassados. Vamos nos concentrar no presente.

Existe um volume imenso de pesquisas cientificas provando que uma dieta vegana traz inúmeros benefícios à saúde, como menor risco de obesidade, doenças coronárias, hipertensão, diabetes, câncer e doenças crônicas em geral. A falta de um único nutriente, que depende mais do seu metabolismo do que da sua dieta (mais sobre esse assunto no capítulo 4), não é um argumento contra o veganismo.

Na França, onde vivi durante vários anos, todas as crianças tomam suplemento de vitamina D durante os primeiros anos de vida (recomendação do pediatra). Nessa parte da Europa as pessoas não recebem sol suficiente pra produzir esse nutriente indispensável, por isso é muito comum tomar suplemento de vitamina D e suplementar o leite, e outros alimentos, com essa vitamina. Usando o mesmo tipo de raciocínio, deveríamos conluir que não é natural viver em países onde o sol não brilha na maior parte do ano?

O meio em que o homem vive mudou. A maneira que produzimos e consumimos os alimentos também mudou. Por causa disso às vezes é necessário suplementar nossa alimentação com um ou outro nutriente. Muitos dos nossos hábitos modernos não são “naturais”, como comer comida processada e cheia de produtos químicos, viver em ambientes climatizados artificialmente… A questão não é saber se essa ou aquela dieta é a mais “natural” pro ser humano, o importante é saber qual trará mais benefícios. Uma dieta vegana bem planejada e com suplementação de B12 cobre todas as nossas necessidades em nutrientes, melhora a saúde, diminui nossa pegada ecológica e faz prova de compaixão com os animais não-humanos. Eu ainda não encontrei nenhuma desvantagem nisso.

 As plantas são seres vivos. Elas também sofrem!

O que diferencia um animal de um vegetal é que o primeiro tem um sistema nervoso, logo sente dor, e o segundo não. No dia que você escutar uma planta gritar de dor ao ser cortada pode ter certeza que aquilo era um animal, já que a presença de um sistema nervoso classificaria imediatamente essa criatura no reino dos animais.  Nós sentimos dor pra poder reagir a um perigo. Por exemplo, se você tocar algo e sentir dor, o machucado te ensinará a não tocar mais naquilo. Plantas não se locomovem, logo seria absurdo se elas tivessem sensibilidade sem no entanto ter a capacidade de evitar  o perigo. Pode ter certeza que a natureza não faria uma crueldade dessas. Mas se você ama tanto o verde e está tão preocupado com o bem estar das plantas faça o seguinte raciocínio. Sabendo que são necessários em média 7 kg de vegetais pra produzir 1 kg de carne, qual seria a medida mais eficaz pra diminuir o sofrimento das plantinhas?

Não vejo problema nenhum em matar animais, pois eles não têm alma.

Lembra quando, em um passado não muito remoto, a igreja dizia que negro e índio não tinham alma e que os brancos podiam fazer o que quisessem deles? Esse tipo de afirmação sempre serviu para deixar os humanos com a consciência tranquila diante das atrocidades cometidas contra animais (ou contra outros grupos de humanos, como a História nos mostra). O importante não é saber se animais têm ou não uma alma. Cada qual que acredite no que quiser, segundo suas crenças. A verdadeira questão aqui é saber se os animais sentem ou não dor e temos amplas evidências de que eles sentem. Por isso impor sofrimento aos animais é imoral.

Você não acha absurdo pensar em salvar animais enquanto tem tanta criança morrendo de fome no mundo?

Se alguém conseguisse me provar que ser vegana causa a fome no mundo eu mudaria imediatamente de regime. Mas até onde se sabe, é o regime carnívoro que está destruindo o planeta e causando fome nos países pobres e obesidade nos países ricos. Sabendo que o regime vegano melhora a saúde humana, protege o meio ambiente e mantém a biodiversidade do planeta, pode acabar com a fome no planeta (a produção anual de cereais e legumes destinados aos animais de criação daria pra fornecer a dose diária de calorias de 8,7 bilhões de pessoas), você ainda acha que só pensamos nos animais? A ideia de que veganos preferem animais a pessoas é totalmente absurda. No entanto, é verdade que veganos e vegetarianos em geral acreditam que animais são nossos semelhantes e devem ser tratados com respeito. Existe uma concepção distorcida do amor segundo a qual se amarmos um, estamos necessariamente privando o outro desse amor. Os veganos lutam por um mundo sem crueldade e oferecem seu amor aos humanos e não humanos, sem distinção.

A solução não seria comer somente carne orgânica de animais criados em liberdade e que foram mortos de maneira humana?

Do ponto de vista ético, as opiniões podem divergir. Não há dúvidas que nesse caso o animal leva uma vida mais natural, tem uma morte menos dolorosa e que essa carne, livre de hormônios, é melhor pra saúde, mas é menos mal matar um ser que vive em liberdade do que um ser que vive em uma prisão? Porém do ponto de vista nutricional, independente da maneira como o animal foi morto, carne é cheia de gordura saturada e colesterol, podendo causar danos à saúde se consumida em grandes quantidades. Do ponto de vista ambiental, livres ou enclausuradas, as vacas produzem metano (um dos maiores responsáveis pelo efeito estufa).

Deixando de lado as razões nutricionais, ambientais e éticas a resposta a essa pergunta é NÃO. Do ponto de vista puramente prático é impossível se alimentar exclusivamente de carne orgânica de animais criados em liberdade. A indústria da carne não inventou os métodos inumanos de criação usados hoje por acaso. A intenção nunca foi torturar gratuitamente os animais, ou destruir o planeta, ou a nossa saúde. Esses métodos foram inventados por um único motivo: satisfazer o desejo do consumidor de ter carne barata e em abundância. Por melhor que seja sua intenção, é simplesmente impossível continuar comendo a quantidade de carne que comemos hoje (mais de 82kg de carne por pessoa e por ano no Brasil em 2002, quase 125kg nos EUA no mesmo ano, segundo relatório da FAO) usando exclusivamente os métodos tradicionais de criação de animais. Se todos os animais de abate fosse criados livres, como nas fazendinhas de desenho animado, a oferta de carne no mundo seria drasticamente reduzida. Se você quiser realmente fazer uma diferença, sem no entanto se tornar vegetariano, diminua seu consumo de carne (e compre carne orgânica de animais criados em liberdade, claro). Carne devia ser, como já foi um dia no nosso país e ainda é na maior parte do mundo, um luxo.

Você acha que ser vegetariano vai ajudar o planeta? Estão destruindo as florestas pra plantar soja que será transformada em comida pros vegetarianos!

Já ouvi essa afirmação algumas vezes, inclusive de um dos mais famosos chefs brasileiros. Pior do que a ignorância é a ilusão do conhecimento, como disse Daniel Boorstin. Ninguém está destruindo a Amazônia pra fazer proteína nem leite de soja pros vegetarianos. Mais de 80% da soja produzida nos EUA é destinada à fabricação de rações pros animais de abate e no Brasil a situação não é diferente. Praticamente toda a soja exportada no nosso país é destinada à alimentação de animais e isso não acontece só com a soja. Cereais como milho e aveia também são cultivados principalmente pra esse fim. Não, não é o tofu no prato do vegetariano que está destruindo a Amazônia, é o bife no prato do onívoro.

Você acha que ser vegetariano é melhor pra saúde? Com tantos agrotóxicos jogados nos vegetais você vai acabar mais envenenada do que os que comem carne.

Se os vegetais estão cheios de agrotóxicos, a carne, o leite, o ovo e os outros produtos de origem animal estão ainda mais contaminados. Aquele bife comido no almoço já foi uma vaca e se alimentou de uma quantidade enorme de vegetais, principalmente cereais como a soja e o milho, antes de chegar ao abatedouro. A utilização de agrotóxicos na produção de cereais usados pra alimentar o gado é ainda maior que na produção de cereais usados pro consumo humano. Enquanto a maioria dos vegetais recebem até quatro “banhos” de agrotóxicos antes de serem colhidos, a soja recebe oito! Quanto mais se sobe na cadeia alimentar, maior a concentração de pesticidas, um fenômeno conhecido como “bio-amplificação”. Quando somamos a isso o uso intensivo de antibióticos e anabolizantes na pecuária, a conclusão é evidente: a concentração de veneno na carne e outros produtos de origem animal é ainda mais elevada do que nos vegetais. Comer plantas, além de indispensável à saúde, ainda é a opção mais saudável.

Estou sempre atualizando essa página. Se vocês têm dúvidas que não foram esclarecidas aqui, sintam-se a vontade pra me escrever.