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creme voluptuoso de chocolate e laranja

Ano passado criei uma receita que mudou a minha vida pra sempre. Como ela tem um ingrediente inusitado, gostaria de poder servi-la pra vocês primeiro e só depois dizer o que tem dentro (é assim que faço quando sirvo essa receita pra convidados aqui em casa). Mas vocês podem admirar as fotos. Parece cremoso, voluptuoso e delicioso, não é?  Podem ter certeza que esse creme é tudo isso e muito mais!

O segredo dessa maravilha? Abacate! Eu tinha visto essa fruta em algumas receitas de sobremesas cruas antes, mas confesso que pensei que o resultado não seria nada de espetacular e por isso levei alguns anos pra testar em casa. Como eu estava enganada! A ideia de usar abacate como base de um creme doce é simplesmente brilhante! Ele substitui o creme de leite, a manteiga e o ovo aqui, dando cremosidade, corpo e textura pra esse tipo de receita. Além, claro, de vir com muitas vantagens nutricionais.

Mas e o gosto? Se você também está pensando que uma sobremesa à base de abacate deve ser estranha, preste muita atenção no que vou dizer agora. Abacate tem um sabor relativamente neutro e se combinado com ingredientes de sabor marcante, como cacau, laranja e baunilha, ele fica discreto ao ponto de se tornar imperceptível. O resultado final é absolutamente delicioso e tem zero (ZERO!) gosto de abacate. Eu já servi essa receita dezenas de vezes, pra amigos veganos e onívoros (acostumados a comer sobremesas tradicionais cheias de laticínios e açúcar), e todos, absolutamente todos, adoraram e quase caíram da cadeira quando eu disse que tinha abacate. Se você não contar que tem abacate, ninguém nunca vai adivinhar. E a textura? Extremamente cremosa e densa. Na verdade eu descreveria a textura dessa sobremesa como o cruzamento de um brigadeiro com um mousse de chocolate. Só que muito, muito mais gostoso.

creme voluptuoso de chocolate e laranja1

Eu parti da receita básica que encontrei em algum site que desapareceu da minha memória (abacate+cacau+xarope de agave) e fui adaptando, adicionando ingredientes, retirando outros, até ficar do jeitinho que eu queria. Uma das minhas combinações preferidas é chocolate com laranja e embora eu já tenha testado versões desse creme com café ou só com cacau e baunilha, a versão com laranja continua sendo a minha preferida. Eu acho que as raspas de laranja são as responsáveis pela mágica do desaparecimento total do gosto de abacate, por isso não aconselho fazer sem. Caso você não goste de chocolate com laranja espere um pouco que estou aprimorando a versão com café (talvez outras ideias apareçam pelo caminho).

Eu poderia continuar a campanha “eleja esse creme como a sobremesa do ano” dizendo que ele é rico em fibra e proteína (se você fizer 8 porções pequenas, como indico na receita, cada uma terá pelo menos 4,2g de fibras e 1,8g de proteína, o que pra mim compensa e muito a quantidade de açúcar das tâmaras), além de ter somente gorduras boas (aquelas que protegem o coração e deixam a pele linda) e zero colesterol. Mas, sinceramente, sobremesa será sempre sobremesa pra mim (por mais ‘saudável’ que seja) e eu como esse creme por um único motivo: porque é loucamente gostoso!

Eu elegi essa receita a sobremesa do ano de 2012 e com certeza ela faz parte do meu top 5 das melhores sobremesas de todos os tempos (veganas ou não, saudáveis ou não). Se mesmo depois de ter lido esse post você ainda pensar que uma sobremesa totalmente vegetal (sem creme, leite, manteiga nem ovos), sem açúcar e à base de abacate deve ser o extremo oposto, em matéria de sabor, das sobremesas tradicionais (feitas com laticínios e açúcar) que fazem os clientes salivarem nos restaurantes e casa de doces, então aqui vai mais um argumento.

A maioria das sobremesas saudáveis têm gosto de… saudáveis, não é? Juro que essa receita não faz parte dessa categoria. Quando você colocar esse creme-delícia na boca e sentir a gostosura escorregando garganta abaixo você só vai conseguir pensar em uma coisa: “Como conseguiu viver tanto tempo sem ele?”. Depois pode me enviar flores que eu aceito.

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Creme voluptuoso de chocolate e laranja (vegano, sem açúcar)

Três fatores determinam o sucesso dessa receita: a qualidade do abacate, do cacau e das tâmaras. O cacau deve ser excelente (puro, intenso e saboroso), o abacate deve estar maduro no ponto (nem meio verde nem maduro demais) e as tâmaras devem ser extra macias (do tipo medjool, que se desfazem quando espremidas entre os dedos). Se suas tâmaras estiverem meio ressecadas deixe-as de molho em água quente (só o suficiente pra cobri-las) por pelo menos meia hora antes de fazer a receita. Em seguida use essa água na receita (substituindo o leite de amêndoas). Outro detalhe importante: assim que fica pronto o creme conserva uns resquícios do sabor do abacate, por isso é essencial deixa-lo descansar na geladeira por 12 horas antes de servir. Depois do repouso no frio, o abacate desaparece completamente e só fica o chocolate com notas de laranja. E lembre de só dizer que essa receita é à base de abacate depois que os seus convidados terminarem a degustação (as pessoas percebem os gostos de acordo com as expectativas que têm e se elas acharem que a sobremesa é ruim –antes mesmo de provar- as chances dela ser ruim são grandes). Depois é só rir da cara de espanto que eles vão fazer.

1x de abacate maduro (amasse ligeiramente e compacte um pouco na hora de medir)

8 tâmaras, ou a gosto (veja conselhos acima)

Suco de 1 laranja grande (aproximadamente 1/2x)

1 1/2cc de raspas de laranja

3cs de cacau de ótima qualidade (puro, sem açúcar)

1cc de extrato natural de baunilha (ou as sementes de 1/2 favo)

1cs (rasa) de tahina (opcional, mas recomendado)

Uma pitada de sal

1/2x de leite de amêndoas (ou água ou suco de laranja)

-Triture todos os ingredientes no liquidificador até ficar cremoso e homogêneo. Você vai precisar parar o motor algumas vezes e mexer com uma colher pra facilitar o trabalho. Seja paciente e triture até não sobrar nenhum pedacinho de tâmara inteiro. Se sentir que o creme está muito espesso, junte mais um pouquinho de líquido (leite de amêndoas, suco de laranja ou água), mas cuidado pra não deixar a mistura muito líquida (mas saiba que ela vai engrossar um pouco depois de gelada).

-Prove e adicione mais tâmaras se achar necessário (com 8 tâmaras você obtém um creme meio-amargo, o equivalente a um bom chocolate com 60% de cacau). Nesse estágio talvez você ainda sinta um gostinho de abacate lá por trás, mas confie em mim: depois de uma noite na geladeira ele vai desaparecer completamente.

-Transfira o creme pros recipientes em que planejar servir (copinhos, xícaras ou taças), lembrando de fazer porções pequenas (essa sobremesa é intensa e rica e você não vai precisar de muito pra ficar satisfeito(a)). Cubra as porções com um pedaço de papel alumínio ou filme plástico e deixe descansar uma noite (12 horas) na geladeira antes de servir. Rende 8 porções se você usar copinhos do tamanho dos meus (com capacidade pra 100ml).

*Na hora de calcular a quantidade de proteína e fibra dessa receita só levei em consideração a informação nutricional do cacau, abacate, tâmara e tahina, logo esses valores são ligeiramente superiores quando contabilizamos os outros ingredientes. A receita inteira tem 33,8g de fibras (14,8g do cacau, 15g do abacate, 13g das tâmaras e 1g da tahina) e 14,5g de proteína (2,5g do cacau, 5g do abacate, 4g das tâmaras e 3g da tahina).

geleia morango chia

Esse mês pretendo tratar da questão do açúcar na alimentação, mas antes de dividir com vocês todas as informações que juntei nos últimos anos (preparem-se que o negócio é pesado), achei que seria interessante publicar uma ou outra receita doce sem açúcar por aqui.

Faz tempo que o açúcar não faz mais parte da minha alimentação, mas mesmo depois de ter parado de consumi-lo, criei algumas sobremesas com açúcar pra agradar amigos e familiares. E, claro, pra agradar vocês, queridos leitores. Durante muito tempo fiquei com medo de banir de vez o açúcar aqui do blog e provocar reações negativas entre vocês. Já fui chamada de ‘radical’, ‘extremista’ e até ‘xiita’ por causa dos meus hábitos alimentares, que alguns consideram inutilmente excessivos. Mas quando publiquei algumas receitas sem açúcar a reação de vocês foi exatamente o oposto e muita gente me escreveu agradecendo. Descobri que alguns dos meus leitores também cortaram, ou estão tentando cortar, o açúcar do seu dia-a-dia, então hoje me sinto à vontade pra fazer esse anúncio: de agora em diante o açúcar virou persona non grata (eu deveria dizer ‘ingrediente non grato’?) nesse blog e não aparecerá mais no Papacapim (tirando, talvez, alguma rara exceção).

O que nos leva à receita de hoje. Eu gostaria de dizer que a ideia de fazer geleia de frutas crua com chia saiu da minha cabeça, mas a verdade é que vi algo parecido em um blog canadense e imediatamente dei aquele tapão na testa que significa ‘por que não pensei nisso antes?’. Que ideia de gênio! Mas eu queria ver se deixava a receita ainda mais nutritiva e comecei a fazer modificações. Amigo(a)s, consegui transformar uma das coisas menos saudáveis que existe (geleia é praticamente só açúcar!) em algo rico em fibras (morango+passas+chia), sem um grama de açúcar (só o açúcar natural da fruta está presente aqui), rico em ferro (das passas) e em ômega 3 (da chia)! Se vocês estivessem aqui quando coloquei a primeira colherada de geleia na boca teriam me visto pinotando na cozinha…

geleia morango e chia3

Embora eu esteja eufórica (como quando criei os famosos omeletes veganos), preciso avisar que essa geleia não é exatamente como as geleias tradicionais. Embora eu tenha incluído uma foto da minha geleia espalhada em um pedaço de pão nesse post, era só pra mostrar a textura, pois acho que ela não é doce o suficiente pra ser comida assim. Mas as possibilidades são inúmeras. Desde que fiz essa receita degustei minha geleia em uma vitamina de banana (misturei uma banana, leite de amêndoa e uma colher de sopa de geleia de morango e além da vitamina ter ficado deliciosa, a cor ficou linda), misturada na minha papa de aveia matinal (acrescentei uma colher de sopa por porção à papa pronta) e pura, quando bate aquela vontade de comer algo doce depois das refeições. Mas imagino que ela ficaria perfeita como recheio de bolos e tortas, ou misturada à sobremesas com chocolate. Na próxima vez que fizer esse pavê trufado de chocolate usarei essa geleia substituindo os morangos macerados com açúcar. ‘Deliciosa’, ‘nutritiva’ e ‘versátil’ são os adjetivos que mais valorizo quando se trata de receitas e essa geleia reúne os três.

Vou aproveitar que a feira está inundada de morangos (a primavera sempre chega mais cedo por aqui) e durantes as próximas semanas não vai faltar geleia na minha geladeira!

(Se você estiver procurando uma geleia mais tradicional, mas igualmente sem açúcar, veja minha receita de geleia natural de ameixa.)

geleia morango e chia2

Geleia natural de morango e chia (sem açúcar, crua)

Essa receita é adoçada com passas então a quantidade utilizada vai depender da doçura dos seus morangos e da sua afinidade com doce. Meus morangos estavam bem doces e só precisei de 1/2x de passas, mas se os seus estiverem azedos (ou se você preferir uma geleia mais doce) você vai precisar de uma quantidade maior. Eu gosto de combinar morango com raspas de limão, pois acho que uma pontinha de acidez realça o sabor, mas baunilha fica ainda melhor com essa frutinha.

400g de morangos maduros

Entre 1/2x e 1x de passas

1cc de suco de limão

2cs de sementes de chia

1cc de extrato natural de baunilha (ou as sementes de 1 favo de baunilha) OU 1/3cc de raspas de limão (opcional)

Lave os morangos, retire os cabinhos e corte em pedaços miúdos. Coloque metade dos morangos picados no liquidificador junto com as passas (a quantidade vai depender da doçura dos seus morangos) e triture até virar um purê. Desligue o motor algumas vezes e mexa com uma colher pra facilitar o processo, mas não acrescente água. Prove e se achar que não está doce o suficiente junte mais um pouco de passas e volte a triturar. Despeje o purê de morango e passas sobre o resto dos morangos picados, junte o suco de limão, as raspas de limão ou a baunilha, se estiver usando, e a chia. Misture bem. Deixe a chia hidratar 15 minutos (mexa a cada 5 minutos) antes de degustar. Se conserva na geladeira por alguns dias (a geleia vai ficar mais espessa depois de descansar umas horas na geladeira). Rende aproximadamente 2x.

pancakes banana coco3

O livro de receitas que eu estava escrevendo e acabou não vendo o dia ia trazer algumas receitas que já foram publicadas aqui no blog, só que revisadas e melhoradas. O Papacapim fará três anos em breve e a maneira como cozinho evoluiu bastante durante esse período (felizmente!). A receita de panquecas de banana que apareceu aqui mais de dois anos atrás, por exemplo, sofreu uma mutação considerável.

Eu estou usando cada vez menos farinha de trigo na minha cozinha, por vários motivos. Embora eu não seja intolerante ao glúten, sinto que meu estômago é mais feliz sem ele. Não pretendo excluir o pão (de qualidade) da minha vida, mas se posso preparar sobremesas e lanches com cereais mais nutritivos, por que continuar usando sempre a velha farinha de trigo? E, provando mais uma vez que quando mudamos nossa alimentação nossas papilas acabam se ajustando, hoje acho a nova versão (atualizada e sem farinha) das minhas receitas muito mais saborosa. Como essas pancakes de banana e coco.

A receita que usei durante anos tinha uma xícara e meia de farinha de trigo e fazia uma quantidade grande demais pra minha família de duas pessoas (e dois gatos, mas eles não comem pancakes). Mudei um pouco as proporções e substituí alguns ingredientes. Como o meu cereal preferido é a aveia, substituí a farinha de trigo por farinha de aveia (na verdade flocos de aveia que trituro no liquidificador até virar pó) e um pouco de farinha de coco, que além de aumentar a quantidade de fibras da receita deu um gostinho todo especial. Como expliquei nesse post, farinha de coco tem inúmeros benefícios pra saúde e um sabor suave. Quando quero um sabor de coco mais pronunciado, uso leite de coco, mas quase sempre uso meu leite de amêndoas e obtenho pancakes super delicadas.

pancakes banana coco

Além de nutritivas e muito, muito saborosas, a textura dessas pancakes é incrível: ligeiramente crocante por fora e extremamente cremosa por dentro. O sabor da banana predomina (a menos que você use leite de coco na massa) e como essa versão tem mais fruta do que farinha, esses ‘bolinhos de frigideira’ são naturalmente doces. Eu gosto de degustar meus bolinhos puros, com uma xícara de chá ou café (amargo), mas se você precisar de um pouco mais de doçura, sirva com um tiquinho da sua geleia preferida, compota ou xarope de bordo (tradicional, mas difícil de encontrar no Brasil).

A única coisa chatinha dessa receita é que, justamente por não levar farinha nenhuma (só tem uma colherinha de amido mantendo todos os ingredientes unidos), as pancakes são bem frágeis. É preciso usar uma frigideira muito boa, daquelas pesadonas de ferro, pra que elas não grudem e você terá que fazer mini-pancakes, pois se tentar fazer pancakes maiores elas correrão o risco de se partir na hora de virar. Um bocadinho delicado na primeira vez, mas depois que você ‘pegar o jeito’ vai fazer pancakes de olhos fechados. E quando você der a primeira mordida vai esquecer imediatamente esse trabalhinho extra.

pancakes banana coco2

Pancakes de banana e coco (veganas, sem farinha de trigo, sem açúcar)

Use bananas bem maduras, já começando a ficar com uns pontinhos pretos na casca. Se as bananas não estiverem maduras o suficiente, essa receita será bem menos saborosa (e doce). A escolha do leite vegetal vai depender do resultado procurado. Se coco for a sua praia, use leite de coco e suas pancakes ficarão suculentas e com um sabor mais intenso. Se você usar leite de soja ou de amêndoas, o sabor de coco será bem mais discreto. Eu adoro as duas versões. Se você tiver um potinho de óleo de coco extra virgem na cozinha, aproveite pra usa-lo aqui: ele vai deixar suas pancakes ainda mais perfumadas. Pra que suas pancakes fiquem inteiras durante o cozimento é imprescindível usar uma frigideira de fundo grosso (melhor se for de ferro) e uma espátula de metal (pra vira-las).

2 bananas  grandes maduras (ou 3 pequenas)

1/2x de leite vegetal (leia recomendações acima)

1/2cc suco de limão (ou 1/2cc vinagre natural de maçã)

1/2x de farinha de aveia (trituro aveia em flocos no liquidificador até virar um pó fino)

2cs cheias de farinha de coco (ou coco ralado seco, triturado no liquidificador até virar pó)

1cc cheia de amido de milho (ou fécula de araruta ou fécula de mandioca)

1cc cheia de fermento

1/2cc canela

1cc de extrato natural de baunilha (ou sementes de 1/2 favo de baunilha), opcional

Óleo de coco extra virgem, ou azeite

Junte o suco de limão (ou vinagre) ao leite vegetal, mexa ligeiramente e deixe descansar durante 3 minutos. O leite vai talhar e dar às suas pancakes um toque de acidez delicioso, como se você tivesse usado iogurte na massa. Amasse muito bem as bananas com um garfo. Junte as bananas amassadas com o leite talhado e a baunilha, se estiver usando, e mexa bem. Em um recipiente médio, misture os ingredientes secos: farinha de aveia, farinha de coco, amido (ou fécula), canela e fermento. Despeje a mistura banana/leite/baunilha por cima e use um garfo pra incorporar os ingredientes secos aos molhados. Aqueça uma frigideira com tampa e despeje um pouco de óleo de coco extra virgem ou azeite.  A frigideira tem que ficar coberta com um filme de óleo, mas não precisa exagerar na quantidade. Coloque colheradas de massa (1cs por pancake), deixando um pouco de espaço entre elas, até cobrir a frigideira. Tampe e deixe cozinhar em fogo baixo durante alguns minutos (entre 4-5 minutos). Cheque regularmente: quando o topo parecer mais firme e a massa não estiver mais líquida (toque de leve com o dedo pra conferir), pingue algumas gotas de óleo/azeite sobre as pancakes e pode começar a virar pra cozinhar do outro lado (atenção: se você virar cedo demais elas vão se desfazer). Faça movimentos curtos de vai-e-vem com a espátula pra descolar as pancakes. Deixe cozinhar do outro lado mais alguns minutos. Quando os dois lados estiverem bem dourados, transfira as pancakes pra um prato e repita a operação com o resto da massa. Sirva quente, com um pouquinho de xarope de bordo ou sua geleia preferida, se quiser. Rende 12 pancakes pequenas (2 porções como lanche).

pancakes com banana caramelizada

Minha maneira preferida de comer essas pancakes: cobertas com banana caramelizada polvilhada com canela (fatio as bananas ao meio e frito em um pouquinho de óleo de coco virgem ou azeite, até elas ficarem naturalmente caramelizadas).

Muitas luas atrás, uma leitora deixou um comentário perguntando se eu tinha alguma receita legal de geleia, pois todas as receitas que ela encontrava tinham quilos e quilos de açúcar. Respondi que não, mas fiz uma pequena anotação mental: criar uma receita de geleia sem açúcar. Eu gosto pouco de geleia e Anne não gosta nada, então levou muito tempo pra ideia sair da cabeça e entrar na panela.

Assim que voltei das férias me deparei com uma quantidade e variedade imensa de frutas na feira de Belém. Nessa época do ano as barracas se enchem com as minhas frutas preferidas: manga, pêssego, ameixa… E como as famílias palestinas são grandes, os feirantes têm costume de vender tudo em grandes quantidades, o que é sempre mais barato. Aqui tem até uma medida de peso equivalente à 3kg, o “raatel”. Assim que comecei a fazer minhas compras na feira ficava totalmente perdida. Eu perguntava quanto era o quilo da uva, por exemplo, e eles respondiam “10 NIS o raatel”. Eu colocava uns cachinhos na sacola, pagava um preço diferente do que o feirante tinha dito (claro, já que eu nunca comprava 3kg de uma vez) e saía sem entender nada. Mas hoje aproveito quando é época dos meus vegetais preferidos e sempre compro em raatel, pois, como disse, fica bem mais em conta.

Foi assim que duas semanas atrás voltei pra casa com 3kg de pêssegos, 3kg de uvas e 3kg de ameixas. Aqui em casa só tem duas pessoas e não tinha como a gente comer 9kg de frutas, maduríssimas ainda por cima, em poucos dias. Foi quando lembrei do projeto de geleia sem açúcar.  O meu olho grande acabou servindo pra alguma coisa.

A razão pra se usar uma quantidade obscena de açúcar na preparação de geleias é pra dar o ponto, além de preservar a fruta. Uma fruta fresca apodrece em poucos dias, enquanto um pote de geleia bem feita se conserva mais de um ano. Pensei em várias maneiras de fazer uma preparação doce, mas não enjoativa, e com a consistência de geleias tradicionais, sem usar um grama sequer de açúcar. Uma das ideias que tive foi usar suco de maçã ou uva, pois ambos são doces (e ficam ainda mais doces quando concentrados, o que acontece durante o cozimento) e, graças à quantidade elevada de pectina nessas duas frutas, conseguiria a textura ligeiramente gelificada das geleias tradicionais. Algumas pessoas acrescentam pectina na fabricação de geleias e na França é possível comprar um açúcar com pectina, usado especialmente com esse objetivo. Se você não sabe o que é pectina, aqui vai uma explicação rápida: ela é um dos principais componentes da parede celular das plantas e suas ramificações aprisionam água e a transformam em gel. Por isso elas ajudam a deixar a geleia com consistência de… geleia.

Minha primeira tentativa ficou mais próxima de uma compota do que de geleia, mas comi e achei bom (e ainda dividi com uma amiga, que gostou por demais!). Na segunda tentativa consegui o resultado que estava procurando. O suco de uva funcionou direitinho e, por ser extremamente doce e de sabor discreto, não só deu conta de adoçar a geleia (ninguém vai adivinhar que não tem açúcar aqui) como não interferiu no sabor delicado das ameixas. Coloquei um tiquinho de canela porque acho que casa muito bem com ameixa, mas você pode deixar de fora, se preferir. Na primeira tentativa usei baunilha (usei as sementinhas de um favo, que acrescentei à receita no final) e também ficou muito bom. E nem preciso dizer (mas já estou dizendo) que você pode substituir as ameixas pela fruta que preferir: morango, framboesa, goiaba, mirtilo, pêssego…

Estou muito orgulhosa da minha criação e com aquela sensação boa de “missão cumprida”. Continuo não gostando muito de geleia, mas se essa é a sua praia e você estiver tentando cortar o açúcar da dieta*, você vai adorar a receita.

*Aviso importante: o fato dessa geleia não ter açúcar (me refiro aqui ao pó branco ou mascavo, feito de cana de açúcar), não significa que ela seja aconselhável pra diabéticos. Essa receita tem muita frutose (o açúcar natural das plantas) e embora não seja processada/refinada como as geleias industrializadas e seja feita somente com frutas, não é exatamente um alimento saudável. Considere essa receita como uma guloseima menos “do mal”, mas que ainda assim deve ser apreciada com moderação. Se quiser algo doce e saudável de verdade, coma uma fruta fresca. E tenho dito.

 

Geleia natural de ameixa

Como a pectina está concentrada na casca da uva, é preciso fazer o suco em casa e usar uma peneira grossa pra coar, pra aproveitar uma parte das cascas. Sucos de uva industrializados são bem coados (filtrados), logo pobres em pectina e por isso acho que não funcionam nessa receita. Fazer o suco é fácil: basta passar as uvas inteiras no liquidificador, sem acrescentar água nenhuma, e depois coar na peneira grossa (o objetivo é se livrar das sementes, mas aproveitar o máximo de casca possível). Importante: use somente uvas maduras e bem doces. Como a ideia aqui é substituir o açúcar, uvas azedas não servem. Usei uvas brancas porque eram as que eu tinha na geladeira, mas você também pode usar uvas roxas. O sabor do suco de uva roxa é mais forte, além da cor ser mais escura, mas acho que isso só vai deixar a geleia mais interessante. Lembre que, por não ter açúcar, essa geleia se conserva somente algumas semanas na geladeira, portanto não é uma boa ideia fazer uma quantidade grande (a menos que você esteja pensando em presentear os amigos).

4x de ameixas frescas, cortadas em pedaços médios (sem o caroço, com casca)

2x de suco de uva 100% integral e sem açúcar (leia acima)

1cc de canela em pó ou 1 pau de canela (opcional)

Em uma panela pequena, de preferência com o fundo grosso, leve a ameixa, o suco de uva e a canela em pau ao fogo. Se estiver usando canela em pó deixe pra acrescentar no final. Quando começar a ferver baixo o fogo e deixe cozinhar em fogo baixíssimo, destampado, até a ameixa se desintegrar quase completamente e a mistura atingir uma consistência de geleia. O tempo de cozimento varia de acordo com o tamanho da sua panela, da chama do seu fogão e das suas ameixas, mas aqui em casa levou quase uma hora (a chama do meu fogão fica bem baixinha). De vez em quando dê uma olhada na panela, mexa, esmagando alguns pedaços maiores de ameixa com as costas da colher de pau, e verifique se já deu o ponto. Quando achar que a geleia está pronta retire o pau de canela, ou junte a canela em pó, se não estiver usando canela em pau, e transfira pra um pote de vidro (bem limpinho). Feche o pote e deixe esfriar completamente antes de colocar na geladeira. Rende entre 2 e 3x. Se conserva duas semanas na geladeira (talvez mais).

Limonada rosa com hortelã

Se você lê esse blog há algum tempo sabe que 1-Sucos de frutas, mesmo naturais, não entram na minha lista de alimentos saudáveis e por isso… 2-Eu quase nunca tomo sucos. Se você é novo por aqui leia esse post pra entender melhor o que acabei de dizer. Porém tem um suco que descobri na Palestina e que tomei bastante durante meus primeiros anos aqui: limonada com hortelã. Talvez o conceito não seja novo pra vocês, mas eu nunca tinha provado suco de limão com hortelã antes e fiquei encantada com o casamento perfeito de sabores. É uma bebida tradicional e extremamente popular nessa terra, pois a maioria da população palestina é muçulmana e pouca gente bebe álcool por aqui (só os palestinos cristãos, palestinos muçulmanos seculares e estrangeiros).

A receita palestina é feita com suco fresco de limão, açúcar e hortelã batidos no liquidificador com bastante gelo pra ficar com uma consistência semi-congelada. Por não fazer parte da minha vida, açúcar sempre provoca reações estranhas no meu corpo nas raras vezes que o consumo. Alguns meses atrás percebi que minha barriga inchava quando eu tomava limonada com hortelã, como se o açúcar fermentasse lá dentro. A sensação era bem desconfortável e parei de tomar o suco de vez. Mas desde então fiquei pensando em fazer uma versão sem açúcar da limonada, afinal limão com hortelã é gostoso demais pra não ser degustado com frequência. Matutei, matutei, tive algumas ideias, que rejeitei antes mesmo de testar, até que ontem vi a luz!

Eu tinha voltado pra casa com uma linda melancia do mercado (está na época aqui), a primeira que comprei esse ano, e foi aí que a inspiração chegou. E se eu usasse melancia na limonada? Com um ingrediente, natural, barato e fácil de encontrar, eu substituiria o açúcar, a água e, se usasse uma parte da melancia congelada, o gelo também! Nunca na vida tomei suco de melancia porque sempre achei que devia ser algo extremamente sem graça, além de ser muito mais divertido comer melancia do que bebê-la. Mas na minha receita a melancia é apenas o suporte pros sabores do limão e da hortelã, então meu suco está longe de ser sem graça! Extremamente refrescante e saborosa, essa limonada rosa é a maneira mais gostosa de se hidratar durante o verão.

Sei que somente meus leitores europeus poderão degustar essa receita agora. Não é época de melancia no Brasil e em algumas regiões o clima está frio demais pra acolher esse suco semi-congelado (esse é o problema em viver em um lado do mundo e escrever receitas pro pessoal do outro lado). Mas, leitores brasileiros, guardem essa receita em um cantinho da memória e não deixem de experimentá-las assim que as melancias aparecerem nas feiras. Garanto que depois de provar minha limonada rosa seus dias de verão nunca mais serão os mesmos.

PS Se vocês estão se perguntando por que tem tanta foto de gato num blog de comida a resposta é que meus bichanos invadem as fotos sem a minha autorização. No meio da sessão de fotos Noor se instalou confortavelmente na bandeja onde estavam os copos de limonada (ele adora dormir nessa bandeja) e não teve como expulsá-lo.

Limonada rosa com hortelã

Nos EUA pink lemonade é uma bebida muito apreciada, mas na maior parte do tempo é colorida artificialmente (algumas receitas usam suco de cranberry). Além da cor, a única coisa que minha limonada rosa tem em comum com a receita americana é o limão. Tudo aqui é 100% natural e sem açúcar. Não esqueça de retirar as sementes da melancia antes de congelá-la. Eu usei uma quantidade pequena de limão, assim os sabores ficaram bem equilibrados. Se quiser um sabor mais intenso use mais suco de limão, mas nesse caso talvez você sinta a necessidade de adoçar o suco, que era exatamente o que eu queria evitar. Um pouquinho de raspas de limão intensifica o sabor sem, no entanto, aumentar a acidez da bebida. O sabor da melancia, embora discreto, também está presente, mas complementa muito bem os outros sabores. Por isso quase chamo minha limonada rosa de “melonada”. Esse suco é ainda mais refrescante se for servido semi-congelado (como nas fotos), mas você também pode usar só melancia fresca se quiser um suco totalmente líquido.

2x de melancia (em cubos, sem as sementes)

2x de melancia congelada, (em cubos, sem as sementes)

Suco de 1 limão pequeno (aproximadamente 4cs), ou a gosto

Uma pitada de raspas de limão

Um punhado de hortelã picada (aproximadamente 4cs)

Bata a melancia, a melancia congelada e o suco de limão no liquidificador. Junte a hortelã e bata mais um pouco, só o suficiente pra corta as folhas em pedacinhos miúdos. Sirva imediatamente. Rende duas porções de 250 ml cada.

Limonada rosa e o gato