Arquivos para posts com tag: chocolate

creme voluptuoso de chocolate e laranja

Ano passado criei uma receita que mudou a minha vida pra sempre. Como ela tem um ingrediente inusitado, gostaria de poder servi-la pra vocês primeiro e só depois dizer o que tem dentro (é assim que faço quando sirvo essa receita pra convidados aqui em casa). Mas vocês podem admirar as fotos. Parece cremoso, voluptuoso e delicioso, não é?  Podem ter certeza que esse creme é tudo isso e muito mais!

O segredo dessa maravilha? Abacate! Eu tinha visto essa fruta em algumas receitas de sobremesas cruas antes, mas confesso que pensei que o resultado não seria nada de espetacular e por isso levei alguns anos pra testar em casa. Como eu estava enganada! A ideia de usar abacate como base de um creme doce é simplesmente brilhante! Ele substitui o creme de leite, a manteiga e o ovo aqui, dando cremosidade, corpo e textura pra esse tipo de receita. Além, claro, de vir com muitas vantagens nutricionais.

Mas e o gosto? Se você também está pensando que uma sobremesa à base de abacate deve ser estranha, preste muita atenção no que vou dizer agora. Abacate tem um sabor relativamente neutro e se combinado com ingredientes de sabor marcante, como cacau, laranja e baunilha, ele fica discreto ao ponto de se tornar imperceptível. O resultado final é absolutamente delicioso e tem zero (ZERO!) gosto de abacate. Eu já servi essa receita dezenas de vezes, pra amigos veganos e onívoros (acostumados a comer sobremesas tradicionais cheias de laticínios e açúcar), e todos, absolutamente todos, adoraram e quase caíram da cadeira quando eu disse que tinha abacate. Se você não contar que tem abacate, ninguém nunca vai adivinhar. E a textura? Extremamente cremosa e densa. Na verdade eu descreveria a textura dessa sobremesa como o cruzamento de um brigadeiro com um mousse de chocolate. Só que muito, muito mais gostoso.

creme voluptuoso de chocolate e laranja1

Eu parti da receita básica que encontrei em algum site que desapareceu da minha memória (abacate+cacau+xarope de agave) e fui adaptando, adicionando ingredientes, retirando outros, até ficar do jeitinho que eu queria. Uma das minhas combinações preferidas é chocolate com laranja e embora eu já tenha testado versões desse creme com café ou só com cacau e baunilha, a versão com laranja continua sendo a minha preferida. Eu acho que as raspas de laranja são as responsáveis pela mágica do desaparecimento total do gosto de abacate, por isso não aconselho fazer sem. Caso você não goste de chocolate com laranja espere um pouco que estou aprimorando a versão com café (talvez outras ideias apareçam pelo caminho).

Eu poderia continuar a campanha “eleja esse creme como a sobremesa do ano” dizendo que ele é rico em fibra e proteína (se você fizer 8 porções pequenas, como indico na receita, cada uma terá pelo menos 4,2g de fibras e 1,8g de proteína, o que pra mim compensa e muito a quantidade de açúcar das tâmaras), além de ter somente gorduras boas (aquelas que protegem o coração e deixam a pele linda) e zero colesterol. Mas, sinceramente, sobremesa será sempre sobremesa pra mim (por mais ‘saudável’ que seja) e eu como esse creme por um único motivo: porque é loucamente gostoso!

Eu elegi essa receita a sobremesa do ano de 2012 e com certeza ela faz parte do meu top 5 das melhores sobremesas de todos os tempos (veganas ou não, saudáveis ou não). Se mesmo depois de ter lido esse post você ainda pensar que uma sobremesa totalmente vegetal (sem creme, leite, manteiga nem ovos), sem açúcar e à base de abacate deve ser o extremo oposto, em matéria de sabor, das sobremesas tradicionais (feitas com laticínios e açúcar) que fazem os clientes salivarem nos restaurantes e casa de doces, então aqui vai mais um argumento.

A maioria das sobremesas saudáveis têm gosto de… saudáveis, não é? Juro que essa receita não faz parte dessa categoria. Quando você colocar esse creme-delícia na boca e sentir a gostosura escorregando garganta abaixo você só vai conseguir pensar em uma coisa: “Como conseguiu viver tanto tempo sem ele?”. Depois pode me enviar flores que eu aceito.

creme voluptuoso de chocolate e laranja2

Creme voluptuoso de chocolate e laranja (vegano, sem açúcar)

Três fatores determinam o sucesso dessa receita: a qualidade do abacate, do cacau e das tâmaras. O cacau deve ser excelente (puro, intenso e saboroso), o abacate deve estar maduro no ponto (nem meio verde nem maduro demais) e as tâmaras devem ser extra macias (do tipo medjool, que se desfazem quando espremidas entre os dedos). Se suas tâmaras estiverem meio ressecadas deixe-as de molho em água quente (só o suficiente pra cobri-las) por pelo menos meia hora antes de fazer a receita. Em seguida use essa água na receita (substituindo o leite de amêndoas). Outro detalhe importante: assim que fica pronto o creme conserva uns resquícios do sabor do abacate, por isso é essencial deixa-lo descansar na geladeira por 12 horas antes de servir. Depois do repouso no frio, o abacate desaparece completamente e só fica o chocolate com notas de laranja. E lembre de só dizer que essa receita é à base de abacate depois que os seus convidados terminarem a degustação (as pessoas percebem os gostos de acordo com as expectativas que têm e se elas acharem que a sobremesa é ruim –antes mesmo de provar- as chances dela ser ruim são grandes). Depois é só rir da cara de espanto que eles vão fazer.

1x de abacate maduro (amasse ligeiramente e compacte um pouco na hora de medir)

8 tâmaras, ou a gosto (veja conselhos acima)

Suco de 1 laranja grande (aproximadamente 1/2x)

1 1/2cc de raspas de laranja

3cs de cacau de ótima qualidade (puro, sem açúcar)

1cc de extrato natural de baunilha (ou as sementes de 1/2 favo)

1cs (rasa) de tahina (opcional, mas recomendado)

Uma pitada de sal

1/2x de leite de amêndoas (ou água ou suco de laranja)

-Triture todos os ingredientes no liquidificador até ficar cremoso e homogêneo. Você vai precisar parar o motor algumas vezes e mexer com uma colher pra facilitar o trabalho. Seja paciente e triture até não sobrar nenhum pedacinho de tâmara inteiro. Se sentir que o creme está muito espesso, junte mais um pouquinho de líquido (leite de amêndoas, suco de laranja ou água), mas cuidado pra não deixar a mistura muito líquida (mas saiba que ela vai engrossar um pouco depois de gelada).

-Prove e adicione mais tâmaras se achar necessário (com 8 tâmaras você obtém um creme meio-amargo, o equivalente a um bom chocolate com 60% de cacau). Nesse estágio talvez você ainda sinta um gostinho de abacate lá por trás, mas confie em mim: depois de uma noite na geladeira ele vai desaparecer completamente.

-Transfira o creme pros recipientes em que planejar servir (copinhos, xícaras ou taças), lembrando de fazer porções pequenas (essa sobremesa é intensa e rica e você não vai precisar de muito pra ficar satisfeito(a)). Cubra as porções com um pedaço de papel alumínio ou filme plástico e deixe descansar uma noite (12 horas) na geladeira antes de servir. Rende 8 porções se você usar copinhos do tamanho dos meus (com capacidade pra 100ml).

*Na hora de calcular a quantidade de proteína e fibra dessa receita só levei em consideração a informação nutricional do cacau, abacate, tâmara e tahina, logo esses valores são ligeiramente superiores quando contabilizamos os outros ingredientes. A receita inteira tem 33,8g de fibras (14,8g do cacau, 15g do abacate, 13g das tâmaras e 1g da tahina) e 14,5g de proteína (2,5g do cacau, 5g do abacate, 4g das tâmaras e 3g da tahina).

torta de chocolate e café

Quando contei sobre os quitutes que apareceram na nossa mesa no natal, mencionei uma torta de chocolate, café e caramelo que comemos no almoço do dia 25. Foi a única sobremesa que fiz durante as festas, pois entre os aperitivos, entradas e pratos, nunca sobrava espaço no meu estômago pra sobremesa. Mas na categoria “sobremesa”, minhas tortas são até bem leves, pois gosto de fazer a massa quase sem doce nenhum e colocar uma camada fininha de recheio. E como a avó de Anne almoçaria conosco naquele dia, fazer uma sobremesa especial era importante pra mim.  Quando perguntaram se ela queria provar a minha torta vegana ela respondeu “Claro!”, mesmo depois do almoço pesado e de já ter engolido um pedaço de tronco de natal. Ela adorou a torta e perguntou, intrigadíssima, com é que eu conseguia fazer aquilo sem manteiga e sem creme. Eu adoro impressionar vovós…

Essa torta segue o mesmo estilo do meu pavê trufado de chocolate amargo e morango e da minha torta de chocolate, banana e amendoim. O denominador comum entre essas três sobremesas é a combinação de tofu sedoso e chocolate amargo (ou meio amargo). Se você ainda não descobriu as maravilhas que o tofu sedoso pode fazer na cozinha, isso precisa mudar urgentemente.

Sempre que posto uma receita com tofu, aparecem comentários de leitores tofufóbicos dizendo que ainda hesitam em preparar algo com ele. Amigos, eu também já fui assim, mas é preciso superar a tofufobia, pois ele é um ingrediente extremamente versátil e, se preparado corretamente, muito saboroso.

Pros noviços em matéria de tofu, aqui vão alguns esclarecimentos. Resumindo bastante, tofu pode ser firme, regular e sedoso (mole). Essa denominação tem a ver com o tempo de drenagem do tofu: quanto mais tempo ele fica na prensa, mais água escorre e mais firme se torna a textura. O tofu sedoso é o único que não é drenado, por isso tem uma concentração de água bem mais elevada e a textura de um pudim firme. Na hora de escolher procure uma loja de produtos japoneses (ou lojas macrobióticas), pois eles fazem o melhor tofu sedoso, e compre o mais fresquinho que encontrar (confira a data de fabricação). Se não estiver escrito na embalagem se ele é firme ou mole, peça ajuda ao vendedor. Tofu mole/sedoso pode substituir o creme e os ovos em algumas sobremesas, se transformando em deliciosos pavês, tortas e mousses. Se o sabor do tofu te assusta, nada tema! Misturado com ingredientes saborosos e intensos, como chocolate, e depois de descansar uma noite na geladeira (importante!) ele desaparece sem deixar vestígios. Quem experimentou minhas receitas de sobremesa com tofu sedoso pode confirmar.

Se você liquidificar tofu sedoso ele se transforma em um creme mais ou menos espesso, dependendo do tofu utilizado (alguns são mais firmes que outros). Mas a verdadeira alquimia acontece quando misturamos esse creme com chocolate derretido e deixamos a mistura descansar na geladeira. A manteiga de cacau presente no chocolate vai se solidificar e a mistura ganhará uma consistência de creme/mousse. Dependendo da quantidade de líquido que você acrescentar à receita, esse creme/mousse poderá ser bem firme ou bem cremoso.

Quando fiz essa torta, queria um recheio cremoso e sedoso, pra contrastar com a massa crocante. Por causa da falta de tempo usei uma massa semi-folhada vegana comprada pronta. Apesar de prática, esse é um produto que só usaria em emergências. Mas você pode, e deve, usar uma massa feita em casa, com carinho e ingredientes naturais.

Quando fiz essa torta acrescentei uma camada de creme de Speculoos. Speculoos é um biscoito tradicional belga, que tem um leve sabor de caramelo, complementado por um toque de canela. A versão creme desse biscoito, pra passar no pão, virou coqueluche lá na Europa e anda destronando aquela famosa pasta de chocolate e avelãs em alguns lares. Essa pasta é vegana (assim como os biscoitos) e depois de ouvir tantos elogios resolvi experimentar. O sabor é idêntico ao biscoito, que adoro, mas o doce é multiplicado por três. Pra mim é intragável, mas pra quem gosta de doces, esse creme tem tudo pra conquistar. Porém não sei se ele é vendido no Brasil…

Como disse, usei um pouco de creme de Speculoos na torta, tomando o cuidado de fazer o recheio bem amargo pra compensar, mas isso é totalmente desnecessário. A receita abaixo é pra fazer uma versão chocolate-café, uma das minhas combinações preferidas. Se você ainda não começou a usar tofu sedoso em sobremesas, espero que essa receita te dê o empurrãozinho final. Além de ser extremamente prático (um ingrediente só pra substituir ovos e laticínios em sobremesas? O que mais pedir?), ele é capaz de fazer sobremesas veganas tão gostosas quando as tradicionais e com o bônus de ser menos calórico, pobre em gorduras e rico em proteínas. Acho que mesmo os onívoros deveriam começar a prestar mais atenção nele…

Update: Quer fazer seu tofu (macio ou firme) em casa? Lina, do blog Aroma de Café, postou a receita bem explicadinha. Vai lá!

 torta chocolate café caramelo 2

Torta vegana de chocolate e café

Você pode usar sua receita de massa pra torta preferida aqui. A massa dessa torta de maçã também ficaria ótima com esse recheio. Outra opção é esquecer a massa e usar biscoitos do tipo maizena, transformando a torta em um delicioso pavê. Nas fotos a torta está decorada com migalhas de biscoito Speculoos, mas você pode usar raspas de chocolate ou migalhas de outro biscoito. Ou optar pelo minimalismo e não usar decoração nenhuma. Se você só encontrar chocolate meio-amargo (com menos de 60% de cacau), acrescente 1cs rasa de cacau ao recheio, pra intensificar o sabor do chocolate.

200g de tofu sedoso

150g de chocolate amargo de ótima qualidade (60% ou 70% de cacau)

Sementes de um favo de baunilha (ou 1cc extrato natural)

½ xícara de café de água quente

1cc de café solúvel (ou substitua a água e o café solúvel por uma dose de café expresso)

Açúcar mascavo a gosto (usei xarope de bordo)

1 receita de massa pra torta (veja sugestões acima)

Prepare a massa que escolher e asse em uma forma rasa (usei uma forma de quiche- redonda e bem rasa- de 28cm de diâmetro o que fez com que a camada do recheio ficasse bem fina, como mostra a foto acima). Enquanto a massa esfria prepare o recheio. Derreta o chocolate em banho-maria. Coloque o tofu, o chocolate derretido, a baunilha e o café solúvel dissolvido na água quente no liquidificador e triture até a mistura ficar totalmente homogênea e cremosa. Prove e se achar necessário, adoce com açúcar mascavo a gosto (não esqueça de triturar novamente pra dissolver o açúcar). Despeje o recheio sobre a massa assada e fria, cubra com papel filme ou papel alumínio e deixe descansar uma noite na geladeira. Se preferir fazer a versão pavê, prepare o recheio como indicado, forre uma travessa pequena com biscoitos do tipo maizena, cubra com a a metade do recheio, faça outra camada de biscoitos e cubra com o resto do recheio. Deixe descansar na geladeira, coberto, durante uma noite antes de servir. Rende 6-8 porções.

Eu adoro cozinhar, mas na lista de pratos que mais gosto de preparar, bolo está provavelmente em último lugar. Só faço bolo quando alguém pede e foi o que aconteceu hoje. Uma amiga vegana sugeriu que eu preparasse um bolo pra uma amiga onívora que vive fazendo piada do nosso regime vegetal. A vegana já não aguenta mais a chacota feita pela onívora e, como se isso não bastasse, ela incentiva os três filhos a zombar de comida vegana na frente dela. Como hoje é o aniversário de doze anos do filho mais velho da amiga onívora, a amiga vegana insistiu pra que eu fizesse um bolo ultra-maravilhoso-delicioso pra família onívora ver o quanto a comida vegetal é saborosa e deixar a gente em paz de uma vez por todas. Como a amiga onívora, e o marido, se empolgaram pra experimentar o meu bolo e que as intenções da amiga vegana eram nobres, aceitei fazer esse sacrifício terrível que é passar o dia inteiro mergulhada em chocolate (estou enjoadíssima até agora!).  Eu sei que muita gente adora isso, mas se eu tiver que escolher entre o melhor bolo de chocolate do mundo e um prato de sopa, escolho o prato de sopa sem pestanejar.

Ainda não sei se o meu bolo fez a família onívora mudar de opinião sobre comida vegetal, mas decidi uma coisa: independente do resultado da boa ação da amiga vegana, nunca mais vou fazer bolo de chocolate. Fiz alguns bolos deliciosos desde que me tornei vegana (outros nem tanto) e consegui conquistar o estômago de vários onívoros pelo caminho, mas a gente só faz bem aquilo que realmente gosta. Nesse caso eu deveria dizer que a gente só cozinha bem aquilo que gosta de comer. A montanha de louça suja e o enjoo que me causa o malvado não compensam. Gosto de degustar uma sobremesa bem feita ocasionalmente, mas do tipo sorvete, pudim, torta ou crumble e geralmente à base de frutas. Esses são os únicos tipos de doce que vou preparar quando não estiver fazendo algo salgado. Au revoir, bolos de chocolate! E já que não vamos mais vê-los aqui no blog, aproveito a despedida pra tirar do baú os melhores bolos de chocolate que fiz nos últimos anos.

Chocolate recheado com morangos e creme. Fiz pra minha colega Cida, em Londres. A decoração linda foi feita pelo nosso amigo Welder, que é chef (eu não tenho capacidade de fazer algo tão elaborado).

Chocolate, café e whisky. Quase uma trufa gigante! Esse foi o bolo que conquistou minha família francesa quatro anos atrás.

Mais um bolo de chocolate, café e wisky (são os meus preferidos). O melhor bolo que já fiz na vida! Mas improvisei a receita e não anotei nada, ou seja, esse bolo se perdeu pra todo o sempre…

Pra fazer o bolo de hoje usei uma receita da chef vegana americana Fran Costigan, a “rainha da sobremesa vegana”. O bolo ficou perfeito: rico em cacau, fofinho e úmido. Só achei doce demais, mas como minha tolerância pra doce é limitadíssima, acho que só será um problema pras minhas papilas. Como não fiz nenhuma modificação na receita original, não vou reproduzi-la aqui. Basta consultar essa página e a receita é sua. Está em Inglês, mas nada que o Google Tradutor não possa resolver em segundos. Porém tem um ingrediente impossível de achar no Brasil: xarope de bordo. Ele tem um sabor especial que deixa o bolo mais gostoso, mas imagino que melado pode ser um substituto interessante, embora ele tenha um sabor muito mais forte, que algumas pessoas não gostam. Acredito que também seja possível omitir o xarope de bordo e aumentar a quantidade de açúcar pra uma xícara (ao invés de meia xícara). Mas não posso garantir o sucesso dessas versões, já que não testei na minha cozinha.

Recheei o bolo com peras caramelizadas com baunilha, porque é época de peras aqui, e cobri tudo com ganache de chocolate, porque é minha cobertura preferida. Pra fazer o recheio descasquei peras bem maduras, cortei em fatias, aqueci um pouco de azeite na minha maior frigideira e cozinhei as peras até começar a caramelizar. Mexi de vez em quando, pra dourar de todos os lados, e deixei as peras ficarem bem bronzeadas. Depois de desligar o fogo juntei as sementes de um favo de baunilha. Fiz uma receita de bolo, mas assei em quatro formas pequenas ao invés das duas formas grandes sugeridas nos site. Em seguida cortei cada bolinho ao meio e fiz dois bolos, com quatro camadas cada um.  Pra isso usei 1,4kg de peras no recheio, mas se você seguir as instruções da receita original e fizer dois bolos grandes, provavelmente precisará de menos recheio. Pra cobrir os dois bolos derreti 200g de chocolate amargo (70% de cacau) com 8cs de leite de coco. Descobri que gosto mais da ganache com creme de leite de soja ou de aveia, então é isso que aconselho.  Mais uma vez, se estiver fazendo um bolo grande (ao invés de dois pequenos), provavelmente seja necessário menos ganache pra cobertura. Se quiser uma ganache menos amarga, use um chocolate menos forte em cacau. Decorei o bolo com avelãs tostadas, porque acho que combinam muito com chocolate e pera e gosto do contraste de texturas. E antes de me despedir de vez do assunto, uma última dica: bolo de chocolate é sempre melhor no dia seguinte, então prepare o seu na véspera, se possível.

Agora com licença que ainda tenho que limpar o chocolate da cozinha, e do corpo, antes do jantar. Que será sopa, obviamente!

PS Depois que escrevi esse texto ontem à noite recebi uma mensagem da amiga onívora, que é francesa, dizendo que o bolo era “excellent et magnifique”. Mesmo assim continuo decidida a enterrar minha carreira de fazedora de bolo de chocolate.

Pavê trufado de chocolate amargo e morango

Na minha última noite em Natal preparei uma sobremesa especial pra ser degustada no dia seguinte, antes de ir embora. Despedidas são sempre tristes e deixam um gosto ruim na boca, então eu quis amenizar isso oferecendo algo delicioso, e doce, pra minha família.

Quando estou com meus pais, irmãos, sobrinhos e afins gosto de preparar receitas que normalmente não faria se estivesse em casa, como sobremesas convencionais (nem eu nem a outra moradora daqui gostamos desse tipo de sobremesa). Claro que o meu “convencional” já é bem diferente, pois minhas sobremesas não usam nenhum produto de origem animal. Mas tirando esse detalhe, gosto de criar receitas parecidas com as que normalmente agradam o paladar da minha família natalense e isso significa muito chocolate e algumas alterações na maneira como cozinho no dia-a-dia (em casa não uso açúcar –nem branco, nem preto, nem verde- nem produtos industrializados).

Usei a minha receita de torta de chocolate, banana e amendoim como base e fui fazendo alterações. A mais importante foi transformar a torta em pavê, cortando assim a margarina da massa (odeio margarina com todas as minhas forças!). Já que estava usando um biscoito industrializado, não precisava juntar mais porqueira na receita! Combinei chocolate com morangos, porque minha família adora os dois juntos, e nasceu essa delícia.

Hesitei bastante na hora de batizar minha criação, mas como o creme de chocolate é bem denso, parecido com uma trufa firme, e que a sobremesa tem camadas, achei justo chamar de “pavê trufado”. Se isso não existia, acabo de inventar.

Apesar da sobremesa ter ficado ótima, ela não conseguiu adoçar a minha partida. Pois é, faz dez anos que moro no exterior e ainda assim é um chororô só a cada despedida. Mas pelo menos agora eu posso dividir essa delícia com vocês.

PS Devido à falta de colaboração da minha máquina fotográfica, que continua quebrada, e ao estado em que me encontrava naquele dia, não consegui fazer fotos boas do pavê. Felizmente minha irmã me socorreu e fez esse close da sobremesa com a máquina dela. Então a primeira foto é minha e a segunda é dela. Obrigada, Lulu. Pela foto e por ter insistido pra que eu publicasse a receita aqui no blog.

Pavê trufado de chocolate amargo e morango

Usei rosquinhas da marca Fortaleza, que são veganas e fortes em cacau, mas você pode substituir por outro biscoito de chocolate crocante e sem recheio. A baunilha realça o sabor do chocolate e do morango, mas se você não tiver baunilha em favo nem extrato natural, não tem problema (só não pense em substituir por extrato artificial, que tem um sabor muito inferior). Eu não adoço o creme, pois acho que o açúcar presente no chocolate é mais que suficiente, mas você pode juntar um pouquinho de açúcar, se preferir sobremesas mais doces. Ou substitua o cacau em pó (sem açúcar) por chocolate em pó (que é uma mistura de cacau e açúcar- não confundir com achocolatado!). Essa sobremesa fica melhor depois de passar uma noite na geladeira, então lembre-se de prepará-la na véspera.

4x de tofu sedoso (ou o tofu mais macio que você encontrar)

400g de chocolate amargo, com no mínimo 50% de cacau (o amargo da Arcor é vegano e com 53% de cacau)

1cs de cacau em pó

2 favos de baunilha ou 2cc de extrato natural de baunilha (opcional)

1 pacote (350g) de rosquinhas de chocolate

4x de morangos em pedaços

2-3cs de açúcar

Pique o chocolate e derreta em banho-maria. No liquidificador, bata o tofu sedoso até ficar homogêneo e bem cremoso.  Junte o chocolate derretido, o cacau e as sementes de 1 favo de baunilha (ou 1cc de extrato), se estiver usando, e bata mais 30 segundos, desligando o motor e mexendo o creme com uma colher algumas vezes durante o processo, se necessário. O creme de chocolate deve ficar cremoso e ligeiramente aerado. Prove e adoce com um pouco de açúcar, se achar necessário (eu não acrescentei açúcar e ninguém lá de casa reclamou).

Espalhe metade das rosquinhas de chocolate sobre o fundo de uma grande travessa de vidro (use a maior que você tiver) e cubra com metade do creme de chocolate. Repita a operação com a outra metade das rosquinhas e termine com a outra metade do creme. Cubra a travessa com papel-filme e leve à geladeira por 12 horas ( o creme vai endurecer, o gosto de tofu vai desaparecer completamente e tudo vai ficar maravilhoso!).

Algumas horas antes de servir, misture metade dos morangos em pedaços com 2 ou 3cs de açúcar (a quantidade vai depender da doçura dos seus morangos) e leve ao fogo por alguns minutos, só o suficiente pro açúcar dissolver e os morangos começarem a amolecer. Fora do fogo, misture com o resto dos morangos e junte as sementes de um favo de baunilha (ou 1cc de extrato), se estiver usando. Deixe descansar na geladeira por 2 horas.

No momento de servir, espalhe os morangos em calda sobre o pavê. Rende 12 porções (essa sobremesa é muito intensa, então é melhor cortar porções pequenas).

Pudim de aveia, banana e chocolate

Faz mais de dois meses que não publiquei nenhuma receita de sobremesa e se você é novo por aqui deve estar achando que doces não fazem parte da minha dieta. Leitor(a), você achou certo: as sobremesas tradicionais não me seduzem e eu não como açúcar (estou me referindo ao pó branco) nunca, nem amarrada, nem pra ganhar dinheiro. Mas não se engane, eu gosto de degustar uma coisinha doce aqui e acolá. No entanto, entre junho e setembro (o verão aqui) a feira fica carregada de uvas deliciosas, mangas suculentas, pêssegos e figos perfumados e tantas outras frutas saborosas que esqueço completamente dos bolos, pudins, sorvetes e afins. E vou confessar uma coisa. Quando eu mordo um pêssego maduro (que amadureceu no pé) e aquele sabor inebriante invade minha boca e narinas penso: “Nenhuma sobremesa é nem nunca será tão perfeita” e aí perco a vontade de criar receitas doces. Juro. Podem me chamar de xiita.

Mas agora que começou a anoitecer mais cedo, que o vento está cada dia mais fresco e que as frutas de verão estão desaparecendo, me peguei com vontade de comer algo doce que não fosse uma simples fruta. Em uma noite em que o jantar foi leve demais, desejei algo doce, mas consistente o suficiente pra preencher o vazio no estômago. Na improvisação nasceu esse pudim, que nada mais é do que uma papa de aveia com chocolate e banana (inspirada na minha papa preferida). Eu fico até sem jeito de publicar uma receita tão boba aqui, mas ficou tão bom que achei que deveria. Não é nenhuma sobremesa especial que eu serviria aos convidados, mas esse pudim é facílimo de fazer, rápido e mata a fome e a vontade de comer doce ao mesmo tempo. Não é decadente como uma torta de chocolate, mas quebra o galho naquelas horas em que você quer algo gostoso e que fique pronto em menos de 5 minutos. E ainda vem com um super bônus: é uma sobremesa que alimenta (com muitas fibras, ferro e potássio). Eu comi o meu diretamente da panela, com a colher de pau, mesmo. Aconselho você a fazer igual.

 

Pudim de aveia, banana e chocolate

É importante usar leite de coco, pois ele deixa a aveia mais cremosa e combina muito bem com a banana. Testei com leite de amêndoas e o resultado não ficou bom. Eu usei um leite de coco orgânico que trouxe da Europa, sem conservantes e bem líquido, bastante parecido com leite de coco fresco. Claro que o ideal seria usar leite de coco fresco, que é naturalmente adocicado, tem um sabor delicado e não tem conservantes, mas se tudo o que você tiver for leite de coco de caixinha, não tem problema. Nesse caso é importante misturar com um pouco de água por três motivos. Primeiro pro sabor ficar mais suave (o gosto do coco tem que ser discretíssimo). Segundo pra atingir uma conscistência mais fluida (leite de coco industrializado é bem mais espesso que o natural e o pudim ficaria grosso demais). Terceiro pra diminuir o teor de gordura da receita e fazer uma sobremesa mais leve e digesta.

3cs de aveia em flocos finos

1/2x de leite de coco de ótima qualidade

1/2x de água

(pode substituir os dois ingredientes acima por 1x de leite de coco fresco, bem líquido)

1 pitada de sal

1 banana

2cs de chocolate meio amargo picado

1/2cc de extrato de baunilha (opcional)

açúcar, se achar necessário

Cozinhe a aveia com o leite de coco e a pitada de sal, em fogo baixo, até engrossar. Adoce a mistura, se achar necessário. Junte o chocolate picado, a banana em pedacinhos e a baunilha (se estiver usando). Misture tudo e sirva quente. Rende 2 porções. (Reparem que nas fotos acima intercalei camadas de papa, banana e chocolate, mas foi por razões estéticas. Na hora de comer misturei tudinho.)